Dou por mim a pensar que o mundo cresceu de forma descomunal desde há uns quarenta anos a esta parte.
Se tivermos em conta que o objectivo supremo do ser humano deveria ser conquistar a felicidade, este avanço tecnológico que permitiu a transformação do nosso planeta numa aldeia, não favorece em nada essa conquista.
Sei que as sociedades humanas evoluem em ritmos muito diferentes e, naturalmente, em certos pontos do planeta o Universo ainda é pequenino.
Mas é do meu mundo ocidental que estou a falar.
Na aldeia em que nasci, mesmo os adultos consideravam o seu pequeno pedaço de chão como o centro de tudo. O resto passava-se tão longe que a distância fazia esmorecer o bonito sentimento de sofrer com o sofrimento do outro. Diz que...ah! Pode lá ser? E daí..
O consumo era fraco. A produção começava a disparar.
Havia quem pensasse que só existia uma marca de perfume: e afinal para quê mais se aquele fosse bom? Na mercearia, ao mesmo tempo que vendiam o colorau, a banha ou as batatas, começou-se a vender perfume, às porções, guardado num grande frasco. Confiava-se inteiramente no merceeiro.
- Quero dez tostões de perfume. E o merceiro agarrava no escadote e tirava com o máximo de cuidado, usando as duas mãos, o frasco que continha o líquido precioso e que por isso mesmo, residia alcandorado no cimo do armário.
- Cuidado! Diziam os presentes. E o homem, triunfante e com o auxílio de um pequeno funil, deitava uma pequena porção de perfume no frasco que o freguês levava. Às vezes o frasquinho do cliente não estava muito limpo o que favorecia o vendedor. Não se via a cor, o brilho, a quantidade.
O precioso aroma mostrava-se nos funerais e nos bailes, orgulhoso por envolver as golas dos casacos e os cabelos ds senhoras. Estas ainda não tinham aprendido que por detrás das orelhas, só uma gotinha, nos pulsos, só um cheirinho. o Tabu, era o acessório final e por isso, lambia generosamente as roupas já compostas, os cabelos já alinhados.