Fascinam - me os relógios na contagem interminável do tempo. Fazem-me lembrar viajantes solitários que pacientemente percorrem caminhos que sabem não ter fim e, por essa razão, não têm pressa. Vão aspirando tranquilamente o perfume das flores silvestres e mantêm o mesmo ritmo no passo ainda que a noite chegue sussurrando revelações. No seu cantil a água renova-se e, no alforge, o pão renasce.
Nada me acalma mais do que o tic - tac de um relógio no silêncio de uma casa ou, então, as badaladas de um sino derramadas ao meio - dia sobre uma aldeia dormente de sol.
Têm magia, os relógios.
No meu quarto coloquei dois, exactamente iguais, um em cada uma das mesas de cabeceira. Marcam, naturalmente, o compasso exactamente ao mesmo tempo e proporcionam-me uma simetria e um equilíbrio que me faz bem à alma.