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publicado por berenice, em 22.02.11 às 10:29link do post | favorito

   Há bocadinho dei (?)  uma aula a uma turma de putos do 10º ano, de um curso profissional.

Bom, o melhor é dizer que segurei vinte e tal adolescentes que não mostravam a mínima disposição para fazer fosse o que fosse em prol de algum enriquecimento a nível de informação. Acontece que há uma menina ávida de saber e que me solicitava. Ela é do Leste (achei que devia dizer isto).

 Mal me debruçava para a mesa da rapariga para lhe tirar dúvidas, vinham saraivadas de giz da fila de mesas junto da parede onde se situa a porta de saída ( o que os alunos mais gostam numa sala de aula). Então eu erguia a cabeça e inspeccionava; ficava toda a gente sossegada embora sentada de lado, à vontade, assim como se está numa esplanada. Algum mais disparatado ria-se na minha cara, em silêncio, a boca esticada de orelha a orelha. Chamei a atenção, sentaram-se de forma correcta. Um deles, que tem uma guedelha tipo "cão d àgua", ainda não tinha tirado o gorro de malha, adereço indispensável dado que lhe deixa os olhos a descoberto, concedendo-lhe assim o dom da visão. Enquanto chamava a atenção para o gorro e as pernas todas dobradas e por aí fora, veio a saraivada da ala encostada à janela: era a represália. E assim passei uma aula a tomar conta de meninos que, no final, apanharam o giz do chão porque eu dei o exemplo apanhando também. Podia ser pior: podiam responder -me "Apanhe você" ou então "Isso é que era bom". E assim vai o ensino!

 

 


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publicado por berenice, em 16.02.11 às 22:01link do post | favorito

  Que poder é este que tem o tempo com tudo o que se lembra de impôr?

É tempo de individualismo, de falta de capacidade de amar, de solidão e de dor. Toda a gente conhece e comenta as chagas do nosso tempo, toda a gente se diz assustada, com medo de envelhecer sòzinha, angustiada face à possibilidade de ficar incapacitada e sem familiares por perto. Lares há mas são caros e é preciso que alguém se mexa, fure, se chegue à frente, se mace, se incomode.

 Quase toda a gente com quem falei ficou chocada com o recente acontecimento: uma senhora que morreu sozinha na sua casa e por lá ficou oito ou nove anos sem que ninguém abrisse a porta. E morreu também o cão, de fome ou talvez de tristeza. Cão e pássaros eram a companhia da senhora, e todos pereceram, assim passando oito Natais enquanto famílias se juntavam e davam comida para o banco alimentar e qualquer coisinha para os bombeiros e também para as crianças abandonadas e arredondavam para adoçar a quadra. Oito anos, meu Deus!

 Não conseguimos mudar esta situação a que o nosso mundo tão civilizado chegou. E o tempo corre, sabe-se lá para onde, e todos vamos arrastados nele como galhos ressequidos que nada podem contra a corrente de um rio implacável.

 Não poderemos mesmo?

O que me assusta é a possibilidade de  a frieza se apoderar dos corações das pessoas e que a humanidade, certamente em estado de evolução, fique robotizada, sem sentimentos, cerebral apenas. Eu não quero ficar assim. É urgente não querermos, todos nós.

 


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