Como é fria a minha rua!
Às vezes vou andando por aí na esperança de encontrar um cantinho mais acolhedor mas é sempre o mesmo asfalto triste, a mesma calçada quase lúgrube que, devido à humidade constante, se vê invadida por ervas que brotam timidamente. Detesto ver ervas a crescer no empedrado!
Sempre que vivo um Inverno desejo que chegue a Primavera, a estação mágica, de tal modo intensa que provoca depressões em determinadas pessoas. E assim andamos nós como um cachorro à volta da cauda a medir um círculo de doze meses! Há pouco foi Natal; e mal se fez a digestão do bacalhau e dos sonhos, eis que chegou o 1º de Janeiro. E depois o Carnaval e mais dois passinhos a Páscoa. E o Verão que rapidamente desemboca no Outono e ...Natal outra vez.
Tenho saudades do tempo em que a esperança me fazia ver na chuva promessas de alegria, e no frio o conforto dos agasalhos. Tenho saudades de quando o mundo era apenas a minha aldeia e não suspeitava sequer que o frio era suportado nas ruas por muitas pessoas e que o pão não chegava à boca de milhões de crianças. Mas tenho ainda mais saudades do meu coração de criança a transbordar de graça e plenitude porque sentia a presença de Deus e confiava incondicionalmente Nele para me acudir em qualquer aflição.
Hoje pergunto-me: por que razão nos distanciamos tanto? Quem construiu este muro que nos separa? Por que é que a minha rua é tão fria?