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publicado por berenice, em 28.11.10 às 11:30link do post | favorito

 Quem me conhece sabe que sou professora de História.

No tempo em que esta ciência/disciplina tinha peso no curriculum de alguns cursos do secundário, dava-me uma intensa satisfação preparar e dar as minhas aulas. Recordo há vinte e cinco anos atrás, quando uma aula era interacção - salvo, evidentemente, em situações de alunos que frequentavam a escola vá-se lá saber porquê  -  o 9º ano era o suficiente para arranjar um emprego, o programa consistia no percurso quase completo de Portugal a partir talvez do século XVI. E tornava-se um pouco assustador verificar que este país anda à volta de si mesmo como um cachorro à volta da cauda, sem sair do "buraco" de que por estes dias tanto se fala.

 Estávamos nas primeiras décadas do século XIX, com o triunfo do liberalismo; como sempre, atrasados em relação aos principais da Europa como França e Espanha para não falar da Inglaterra. Eu apreciava muito alguns legisladores que tivemos (porque tivemos ao longo da nossa história políticos de grande visão e alcance). Neste período, eu insistia na importância e significado  da  legislação  de Mouzinho da Silveira no sentido de modernizar Portugal acabando com os privilégios de grupos que nada faziam mas que tudo tinham - tal como hoje, tal como sempre.

Talvez por entusiasmo em excesso por conta do idealismo e da energia da juventude, pronunciava muitas vezes o nome do legislador em questão e sempre contava que, perto do fim da vida, este homem inundado por tanto tempo de vontade e esperança, disse com profundo desalento: "que lindos dias em Janeiro, que país se houvesse moral e justiça!" Esta frase tocava alguns alunos e, sobretudo, tinha o condão de os fazer despertar para a triste realidade portuguesa. Porém os "cábulas" que, aliás, nãodeixam de ter a sua piada  pronunciavam nas aulas e às vezes no recreio, para que eu ouvisse, o nome de Mouzinho da Silveira; tratava-se de uma pequenina provocação a que eu respondia com um sorriso cúmplice, e a coisa passava.

 Por que escrevi isto hoje? Porque lamento profundamente que a disciplina de História tenha acabado no secundário já que os conteúdos que se leccionavam eram fundamentais para formar um verdadeiro cidadão: crítico, respeitador, responsável. Actualmente lecciono História da Cultura e das Artes; interessante, a meu ver mas não na óptica da grande percentagem dos alunos.

 Estou preocupada. Os meus alunos não sabem que o poder legislativo está separado do judicial e do executivo e dizem-me que o executivo está a cargo do presidente da República; os meus alunos desconhecem a situação do país; os meus alunos não votam; os meus alunos não contestam nem exigem(excepto aos pais e professores). Que pena!


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