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publicado por berenice, em 15.08.10 às 18:56link do post | favorito

 Há dias fui às compras e trazia numa das mãos um garrafão de água. Um rapaz cuja cara não me era estranha e que  logo identifiquei como antigo aluno, aproximou-se, sorriu para mim e prontificou-se a carregar o garrafão até ao carro. Achei a insistência um bocado fora de propósito até porque na outra mão eu trazia apenas um saquinho com pouco peso. Caminhamos aqueles cem metros a falar não sei do quê e eu a sentir-me desconfortável. Confesso que não gosto deste tipo de situações. Sinto-me em dívida desnecessariamente. Finalmente chegamos ao carro. Abri a porta e no banco de trás arrumei o saquinho. Saquei do garrafão e ajeitei-o também para que não fosse aos solavancos até casa. O rapaz não ia embora mesmo depois de eu lhe agradecer e de dizer que tinha gostado de o reencontar. E ali permanecia especado até que finalmente me disse:

- Professora, não foi por isto que eu trouxe o garrafão. Mas tem dois euros que me dê?

Fiquei atordoada a pensar que tinha ido em perseguição de 5 litros de água mineral a 28 cêntimos e, de repente, aquele garrafão me custava 2 euros e 28 cêntimos. O rapaz continuava a dizer que era para o autocarro e  que a tia não aparecera e que o bilhete era um euro e meio mas dois euros chegavam.... dei-lhe os dois euros mas confesso que fiquei muito incomodada.


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publicado por berenice, em 12.08.10 às 16:40link do post | favorito

   Os pais e os avós, quando nos deixam para sempre, levam consigo uma parte de nós mesmos pela maneira como chamavam por nós. Nunca mais ninguém dirá o nosso nome de forma tão cheia e tão completa. Ana! João! E a Ana e o João sentem-se únicos e irrepetíveis porque ao ouvirem o seu nome ouvem toda uma identidade, toda uma história. Na escola a professora chamará por nós mas o nosso nome soará a número. No trabalho, o nosso nome é apenas a forma de identificar o funcionário tal e às vezes há mais do que um com o mesmo nome e aí acrescenta-se o apelido ou então diz-se a mais alta ou o mais novo. No casamento, com frequência o cônjuge cria um nome ridículo, ainda não percebi bem porquê, mas penso que é para dar a ideia de que de algum modo se reinventou uma pessoa, porque enfim, o nosso marido ou a nossa mulher não tinham nada que viver duas ou três dezenas de anos, longe do nosso olhar,  sem nos dar cavaco, já que estavam destinados a ser a nossa metade.

  Talvez eu esteja a fazer uma leitura particularizada do assunto. Se calhar não é nada disto. A verdade, é que nesta tentativa de apanhar os cacos de mim mesma para me reconstruir, sinto uma necessidade imensa de ouvir alguém chamar por mim de forma inteira. Uma necessidade tão grande que ás vezes, durante o sono, uma voz familiar soa na minha cabeça a chamar por mim; então acordo e sorrio e todos os objectos que me rodeiam, como que por milagre, adquiriram uma dinâmica própria como se finalmente percebessem o seu lugar na minha história.


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