Morreu Saramago! A idade já não permitia que vivesse muito mais tempo mas não posso deixar de sentir uma certa agonia perante a inevitabilidade da morte.
Fiz um esforço atroz para ler o "Memorial do Convento" e não consegui acabar. Comecei a ler cinco vezes mas, passadas talvez 40 páginas, era invadida por um forte desinteresse. Sou professora (felizmente não de português) e não posso dizer isto aos meus alunos já que o livro em questão é de leitura obrigatória, no Secundário. Depois tentei "O Ano da Morte de Ricardo Reis" mas qual quê! Acontece que, como faço questão de andar actualizada nestas coisas da literatura, ainda tentei "Os Evangelhos Segundo Jesus Cristo". E não é que consegui? Actualmente, leio os seus livros com alguma facilidade (embora não com paixão).
José Saramago era uma figura poderosa. Alto e de bom porte, intimidava. Quer dizer, não é difícil intimidarem-me a mim. Por que razão hei-de eu estar a falar de uma pessoa que mal conheço e fechar-me em copas a meu respeito?
Já há muitos anos jantei com ele e com a mulher, a Isabel. O que teria acontecido à Isabel, uma mulher super chic de cabelo platinado que sempre acompanhava o marido segundo, ela própria, me confidenciou? Nesse jantar, primeiro contacto que tive com o já então escritor, apercebi-me de que ele era irónico, sarcástico e....convencido. Afinal o senhor tinha razão, estava cheio de projectos que sabia que ia concretizar com a tenacidade e a persistência que o caracterizavam. Ora esse jantar não aconteceu porque Saramago se lembrou de convidar a "sua amiga Berenice". Ele não me conhecia. Aconteceu talvez por acaso. Porque estava casada com uma pessoa que tinha muitas afinidades ideológicas com Saramago. Se a mulher desse homem fosse outra, seria essa outra que estaria nesse jantar e não eu.
Apetece-me contar aqui uma piada ou talvez, melhor dizendo, "uma saída" do genial Saramago.
- A pescada que diz aqui a ementa é fresca? perguntou ao empregado.
- Não senhor, é congelada - respondeu este cheio de dignidade e profissionalismo.
- Então, pela honestidade, uma pescada cozida.