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publicado por berenice, em 28.02.10 às 20:22link do post | favorito

 Estou a agir de forma inversa ao que se deve fazer em nome do nosso equilibrio emocional.

Não repise o passado!

 E cá estou eu a deixar que os dias passem por detrás das cortinas pois a mente está ocupada com coisas inúteis.

 Não deixe que ódios envenenem o seu presente!

E o meu presente está efectivamente contaminado com raiva porque a vida nem sempre é suave como uma nuvem. E assim, o meu presente é mal desembrulhado e mal lhe sorvo o encanto.

  Onde é que está a minha sensação de plenitude, aquele frescor de alma que eu sentia ao contemplar um céu bordado de estrelas?

 Onde está o sentimento de renovação ao acordar em cada manhã ensolarada?

Não é certamente o tempo chuvoso e ventoso em demasia. Outrora eu ficava maravilhada com a chuva. Para cada condição climatérica tinha um poema que mentalmente deixava deslizar pela minha alma e pelo meu sangue: Chove, mas isso que importa/ Se eu estou aqui abrigada nesta porta/ A ouvir na chuva que cai do céu/Uma melodia de silêncio/ Que ninguém mais ouve senão eu. Não me lembro o nome do autor.Mas ainda me lembro que terminava assim:

                                   Chove,

                                    mas é do destino de quem ama,

                                    ouvir um violino, até na lama.


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publicado por berenice, em 13.02.10 às 22:31link do post | favorito

Éramos três: Fátima, Nina e eu.

 A Fátima era a rapariga dos grandes chavões, a que gostava de discutir os filmes, a agnóstica; a Nina era a emotiva, a que se extasiava com um poema, a que colhia furtivamente uma flor. Formavamos um pequeno grupo mas Nina não se expunha neste contexto. Por exemplo: "a minha mãe, para além de conservadora é uma pessoa muito nervosa. Imaginem que uma vez pintei o cabelo de castanho escuro e logo que cheguei a casa pretendi fazer-lhe uma surpresa. Ela estava na cozinha a tomar um chá e ficou tão perturbada que deixou cair a chávena molhando-me e queimando-me uma perna." Isto dizia Nina na presença de Fátima. A sós comigo, a mãe odiava-a e atirou-lhe o chá com raiva, o cabelo foi um pretexto.

- Nina, por que não vestiu hoje aquela camisa de xadrês? Inquiria Fátima, ardilosa.

- Dei-a à minha mãe. Realmente, com as calças de ganga a camiseirinha azul e branca, aos quadrados, ficava lindamente. Isto digo eu agora. Nina já me tinha contado que a mãe lha tirara à força.

Nunca entendi aquela mãe. Quando íamos lá a casa a senhora mostrava-se amável mas nunca sorria.Punha-nos à frente chá e bolachas, num tabuleiro de prata, como se fosse um autómato: não queria empregada. Era talvez um pouco inibida e camuflava isso com uma segurança que pedia emprestada ao seu ego naturalmente autoritário, possivelmente ferido. E Nina era paciente, mesmo quando a mãe lhe dizia - que falta de graça tens, filha -.

Hoje chama-se a isto violência psicológica e é uma forma de abuso. E é hoje que Nina mais se ressente destas vergastadas sofridas pela mão de uma mãe amarga, talvez doente.

Estivemos juntas há pouco tempo. Ela cheia de afazeres e de crises de ansiedade e a mãe acamada, impertinente, exigente. Ainda assim, Nina manifesta o seu desgosto apenas com  a expressão"a minha eterna mãe" e um sorriso que é um registo da ironia que sempre cultivou.


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publicado por berenice, em 07.02.10 às 13:40link do post | favorito

 Farta de estar em casa, aperaltei-me e saí para meter gasolina e tomar um café daqueles de meter a moeda que é mais barato.

 Botas bem boas, uma pipa de massa; casaco de marca, de cor preta,  importante realçar que tem meia manga; a saia, meio termo mas resistente como o caraças e de cor creme; a camisola da mesma cor da saia e comprada numa banca dos ciganos. Falta a malinha que é dos chineses, bordeaux escuro, a condizer com a écharpe que tem creme, preto,  bordeaux e que também é uma boa peça. Antes de sair coloquei um chapéu preto. Então pela descrição não estaria eu uma elegância parisiense?

  Ao esticar o braço para meter gasolina, verifiquei que tinha vestido a camisola do avesso. Lá estavam as costuras, cheias, impudicas, a troçar de mim. Senti-me extinta. Puxei pela minha racionalidade e considerei que não era nada do outro mundo apesar de ainda ter que esticar o braço para usar o multibanco. E usei-o e a funcionária olhou ou talvez não olhasse, pode ter sido impressão minha. De repente, comecei a ficar divertida e voltei a esticar o braço para meter a moeda na ranhura, para sacar o copito e beber o café. Mas oh céus! ao deitar o copo inutilizado para o lixo, verifiquei incrédula que tiha calçado uma bota preta e outra castanha escura. Saí a rir e deixei a funcionária a rir também.


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publicado por berenice, em 06.02.10 às 23:13link do post | favorito

 Sinto a minha vida tão vazia que às vezes, antes de adormecer, penso no George Cloony.  Deve ser porque vi um filme em que ele e mais uma actriz cujo nome desconheço, eram protagonistas. "Nas Nuvens" é o nome do filme. Os tipos tinham uma profissão lixada. Despedir pessoal. Uma funcionária ameaçou atirar-se da ponte que ficava perto da casa dela e fê-lo. Nunca fui de paixões por vedetas mas o Cloony acalma-me porque tem uma voz quente e porque as pessoas a representar são sempre mais pessoas. Mas penso mais ainda no meu gato que já não existe. Só que este pensamento me faz ficar triste e eu não gosto de chorar na cama. Contudo, entre o Cloony e o gato, prefiro o gato. Este último amava-me e o Cloony não me conhece.Dizem que há sempre uma pessoa que nos ama e que nós não conhecemos. E também se diz que há sempre alguém que pensa em nós antes de adormecer. Se devemos uma soma avultada de dinheiro a alguém, seguramente o credor deve pensar em nós. Não é o meu caso, felizmente: só devo ao meu Banco. Certamente que este pensa em mim e em todos os clientes, pois estão sempre a telefonar de lá a oferecer produtos e vantagens mas não é antes de dormir. Os Bancos não dormem, não têm tempo. Comecei a dormir com o Pandinha que os meus filhos me ofereceram faz tempo. é preto e branco - que esperteza a minha ao facultar esta informação -. É da cor do gato mas é maior. Aspirei-o, limpei-lhe muito bem as mãos e os pés afastei-lhe os pêlos dos olhos e até lhes puxei o brilho (aos olhos). É quase do meu tamanho aquele peluche. Tenho um outro que também é preto e branco mas não é panda é cão e ainda não o aspirei. Esse é do tamanho do gato, do meu querido Pitufo. Continuo a ler o livro que também me foi oferecido pelos meus filhos, "A Terra das Ameixas Verdes". Leio só uma página por noite porque a gata tem ciúmes e deita-se entre as duas páginas. E insiste apesar de eu lhe explicar que ela nãoé tranparente. Estou a gostar do livro. É uma escrita fragmentada como a pintura impressionista. É uma prosa solta dentro das paredes do medo.À primeira vista, parece infantil. Sempre que pego no livro olho para a fotografia da Herta Muller e lembra-me o Bocage.Esta noite apetecia-me beber um copo mas perdi o hábito e já não tenho companhia. Podia perfeitamente ir sòzinha e daí?


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