Não sei quais são os poderes e códigos da Lua. Desconheço os seus mistérios mas conheço-lhe o sorriso matreiro e, seguramente, o temor que inspira.
Há muitos anos atrás, os camponeses contavam que aquele relevo que visualizamos não era mais que um homem a carregar um molho de silvas às costas por ter feito esse trabalho ao Domingo, dia do Senhor. Parece que afinal o dia do Senhor é ao Sábado pois este é o sétimo dia, aquele em que Ele descansou. E eu que era contemplativa, toda virada para o meu mundo interior, tinha pena que o homem tivesse recebido tal castigo e preocupava-me porque ele devia ter frio, sobretudo em Janeiro. Da possibilidade da fome, não me lembrava.
Era comum cumprimentar a Lua Nova quando se assistia ao anoitecer e ela lá estava a recortar o céu, em forma de foice incandescente, tímida e renascida.Penso que era um costume rural: "Adeus lua Nova/ ainda agora te vi/ Deus salve a minha alma/ como te salvou a ti.
A gravidez das mulheres tem a duração de nove meses lunares e, com frequência, a futura mãe espera pela "mudança de lua" para que o seu filhote comece com ânsias de vir ao mundo. Depois vem o sorriso da lua feiticeira que o ronda e que não é sorriso é esgar. As pessoas modernas, muito informadas acerca das descobertas e conquistas do Universo, os médicos, os cépticos, sorriem com superioridade e uma pitadinha de condescendência quando ouvem coisinha destas.Crendices, enfim. É louvável, sem dúvida, o progresso da ciência. E o que outrora parecia ser desta maneira, hoje está mais que provado que afinal é de outra. Mas creio que há todo um mundo mágico que se percepciona pelo sentimento e não pela razão E lá que a Lua tem os seus desígnios que permanecen insondáveis, a mim ninguém mo tira da cabeça.