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publicado por berenice, em 29.11.09 às 18:16link do post | favorito

 Minha mãe queixava-se da monotonia do serviço da casa  e com frequência ouvia o seu desabafo "que cansada me sinto" ou então, "ainda hoje não me sentei um bocadinho".

 Quando os homens ouviam da parte de suas mulheres este tipo de comentários sorriam condescendentes e perguntavam: "O que é que fizeste para te cansares assim?!" Às vezes elas lembravam que só as refeições levavam metade do dia tendo em conta que era necessário comprar os alimentos, cozinhá-los, lavar a louça a seguir e mais o fogão. Depois do almoço vinham mais duas ou três horitas e toca a pensar na refeição seguinte. Os intervalos  entre as refeições eram aproveitados para varrer, passar a ferro, coser meias (até há pouco tempo davam-se pontinhos nas meias embora nos tempos que correm as empregadas domésticas as dobrem muito bem dobradinhas com buracos no lugar dos dedos).

 Chegou a um certo ponto que estas donas de casa, que quando iam tratar do BI no Registo Civil se designarvam domésticas, desistiram de falar da aridez das suas funções, do novelo interminável que era a sua vida. Passaram à actuação e saíram de casa para trabalhar. Não foi  iniciativa nem mérito individual: em todas as épocas as vanguardistas fizeram ouvir o seu grito  criando um terreno favorável. Eu diria que foi o fluir da História porque acredito que há um plano traçado e que, a essa estrutura, a humanidade não pode escapar.

 Actualmente trabalhamos e lutamos pelo reconhecimento das nossas capaciddes. Criámos um forte compromisso com a profissão muitas vezes difícil de conciliar com o compromisso da maternidade. O que nos vale, é que eles ajudam: levam os filhos, pela manhã, à Escola e às vezes vão buscá-los; ao sábdo de manhã, se se pedir com jeitinho, vão comprar um peixe para cozer (que ao menos ao fim-de-semana se tenha na mesa comida saudável) e aparecem em casa com o orgulho de quem pescou; esqueceram-se de umas coisinhas verdes para que o prato fique de acordo com a roda dos alimentos mas ela vai num instante ao mini-mercado da esquina e desenrasca uns bróculos. Ele também trouxe bifes que, por acaso não são bifes, são medalhões e não dão para grelhar.

 Na louça não ajuda: "mete na máquina, para que a queres?" Então ela  deita os restos para o lixo, limpa os pratos com os guardanapos usados, lava os copos que já não são muitos e podem fazer falta assim como o tacho onde cozeu o peixe.Como este processo demora um pouco ele fica impaciente porque gosta de tomar café logo a seguir à refeição e ainda vão tomar café juntos, afinal estão casados há menos de 10 anos. Ela pede-lhe para esperar um pouco e parece uma tonta a correr de um lado para o outro à procura do batôn e do creme das mãos.Mas oh fatalidade! A máquina da roupa acabou de lavar e não centrifugou; escorre água, por debaixo dela, cheia de sabão. Ele vai tomar café sòzinho enquanto ela fica a apanhar a água com uma esfregona. Volta uma hora depois e ela já chorou, arreliada, e agora anda a aspirar com uma energia que é raiva. Precisa de lavar o cabelo, não está bonito ,mas ao sábado não lhe dá muito jeito porque ao fazer as limpezas transpira. Ao fim da tarde tratará disso.Ele atreve-se a fazer um reparo: estás muito bonita com esses olhos chorosos e esse cabelo em desalinho....Ela passa-se e vai ao cabeleireiro, sem marcação, mas num sábado à tade há sempre muita gente e ainda por cima o dia está soalheiro e apetece. Sai  tarde do cabeleireiro e ainda vai comprar os bifes ao supermercado onde também está muita gente e o raio do tempo a passar e o jantar por fazer. Chega a casa e ele diz-lhe que gostava de ir ao cinema, que se despache e ao mesmo tempo que faz o convite vai mordiscando o jornal que comprara de manhã. Não, desta vez ela não o pode deixar ir só e ainda por cima o cabelo ficou lindo. Faz o jantar à pressa, fica ansiosa, um sábado inteiro e não relaxou um pouco. No cinema, já sentada na cadeira, o filme prestes a começar, não consegue deixar de pensar que precisa ver duas turmas de testes, tem mesmo que ver no dia seguinte, e ainda não fez as compras para a semana; se lhe pede a ele, vem tudo trocado e mais caro, enfim, um desgoverno. No intervalo fala-lhe desta preocupação ao que ele responde"nem no fim de semana?!" Ela sabe que não devia ter dito nada, ele vai-se aborrecendo aos poucos, assim. Ela, não.

 


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publicado por berenice, em 18.11.09 às 17:11link do post | favorito

    Parece que o Inverno está a começar e com ele este friozinho que lembra o Natal.

Estou a tentar  lembrar-me se alguma vez gostei do mês de Dezembro e de toda a "magia" que dizem que ele contém.

   Lembro-me que quando era miúda saía no Liceu uma revista que se chamava "Fagulha". Foi nessa revista que li a noite de Natal de um menino que a passou na rua a vender fósforos.  "A quem se toda a gente está fechada em casa, a consoar com a família?!) Seja como for, aqui está o avesso do Natal: a orfandade, a pobreza, o abandono.

 Actualmente é um mês em que se consome muito. Aliás, creio que em Novembro se começa logo a consumir.É preciso pensar nos presentes e não se podem fazer compras acessíveis se se deixar tudo para a véspera. A pressa é inimiga da boa gestão do dinheiro.

Depois há a roupa: nesta época sentimo-nos bem a comprar uns casacos quentinhos e bonitos, umas boas botas.  A seguir à passagem de ano, vêm os descontos e logo depois os saldos e o pessoal começa a deitar contas à vida e prefere comprar um pouco depois, por metade do preço aquela peça de vestuário que a encantou.


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publicado por berenice, em 18.11.09 às 16:47link do post | favorito

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do CONTINENTE, uma parte da TERRA; se um torrão é arrastado para o MAR, a EUROPA fica diminuída, como se fosse um PROMONTÓRIO, como se fosse a CASA  dos teus AMIGOS ou a TUA PRÓPRIA; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do GÉNERO HUMANO.

                                                       E, por isso, não perguntes

                                                                por quem os

                                                             SINOS dobram;

                                                                 eles dobram

                                                                     por TI.

 

 

 

                                                        J O H N           D O N N E

 

                                                             


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publicado por berenice, em 14.11.09 às 08:31link do post | favorito

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do CONTINENTE, uma parte da TERRA; se um torrão é arrastado para o MAR, a EUROPA fica diminuída, como se fosse um PROMONTÓRIO, como se fosse a CASA  dos teus AMIGOS ou a TUA PRÓPRIA; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do GÉNERO HUMANO.

                                                       E, por isso, não perguntes

                                                                por quem os

                                                             SINOS dobram;

                                                                 eles dobram

                                                                     por TI.

 

 

 

                                                        J O H N           D O N N E


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publicado por berenice, em 10.11.09 às 17:23link do post | favorito

Ele ainda percorre a casa toda no seu andar almofadado e mansinho.

Ele ainda se senta nos seus lugares de eleição, muito composto, com a cauda em torno dele.

  Vai ser a primeira noite que tenho que lidar coma sua ausência após uma convivência de vários anos, sem atritos e com muita ternura.

À hora de deitar, às vezes, ele demorava um pouco. Acho que era para se fazer rogado. Eu aguardava. Então ouvia um saltinho fofo e certeiro e  era com alegria que o via deitar-se no seu lugar. Começava quase instantaneamente a ronronar.

Eu passava-lhe a mão na cabeça, fazia-lhe cócegas no pescoço que ele alongava, de olhos semicerrados. Tocava-lhe as orelhas macias mas acabava por não resistir e fazia-lhe cócegas na barriga. Ele avisava: huuum....eu insistia e ele voltava a avisar: huuum.....Então, engolia em seco, os olhos vivos e brilhantes e dava um salto com a cauda  no ar e aquele jeito de fugir, a cruzar as patas traseiras como se fosse um puto traquina. Paráva ao fim de uns saltinhos e observava-me  da semiobscuridade do corredor. Eu percebia a pergunta - Se eu voltar para aí chateias-me outra vez?

- Não pequenino, vem dormir com a dona.

E ele saltava novamente para a cama, ocupava o seu cantinho, e fazíamos as pazes.


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publicado por berenice, em 10.11.09 às 17:22link do post | favorito

Com frequência se diz que este mundo está perdido, que não há vergonha nem palavra. Está de "meter medo". São assaltos, massacres, violam-se senhoras idosas, raptam-se crianças sabe-se lá para quê, isto no mundo do crime. Telefona-se a toda a hora para casa das pessoas para oferecer este e aquele produto, este e aquele serviço, porque a senhora está a pagar muito e nós temos mais barato. E vai daí a gente embarca e muda internet e telefone e assina um contrato. Nos primeiros meses nota-se a diferença depois, por norma, o montante da factura sobe um pouco. Mas aí há outra empresa que nos contacta e quer servir por um valor ainda mais baixo....Enfim, é a competitividade e isto atormenta-nos e azeda as relações entre as pessoas pois não há elegância de maneiras que resista a esta pressão.

  À s vezes dou por mim a sentir-me perdida neste mundo louco. Temo que se entre num caos, que o mundo fique desgovernado (ainda mais) que a guerra tome conta do planeta, que este comece a desorganizar-se no espaço cruzando órbitas com outros, que se aproxime demasiado do sol e fique ígneo como  a ciência explica que  há muitos milhões de anos, foi.


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publicado por berenice, em 07.11.09 às 19:05link do post | favorito

Custa-me ver chicotear as palavras; dói-me ler frases cheias de atropelos, arranhões e adesivos. À força de tanto lidar com esta realidade já vou tento as minhas dúvidas. Bom, a ministra da educação considera que a juventude está a ler cheia de entusiasmo; acho que é uma paixão quase pungente que tomou de assalto os portugueses.

 Gosto de provérbios, ditos populares e mèzinhas caseiras. Um dia, uma colega ofereceu-me um livrinho mimoso como uma flor que se chamava "O meu Livrinho de Provérbios". Sempre os usei muito mas parece-me que a linguagem - pelo menos a verbal- , perde em oportunidade e elegância. Por esse motivo, esforço-me por os eliminar. Contudo, continuo a interessar-me por eles.

 Há bocadinho , num programa televisivo,ouvi um que me feriu levemente os ouvidos. "Muita passa e pouca uva" - dizia a menina, quando devia ter dito muita parra e pouca uva. Também há quem diga esperto como um alho em vez de esperto como um gato. É uma espécie de caldeirada porque também se diz "São como um alho".

 Quando foi a sessão do poder paternal, saí-me com uma em frente da juíza  "Coitado de quem põe as toalhas" -. Não sei o que isso quer dizer?! respondeu-me a magistrada. Então eu tentei explicar que quem dá uma magra mesada fixa fica sempre em vantagem em relação a quem fica. Acho que a senhora não gostou de mim mas isso é o clássico.


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publicado por berenice, em 06.11.09 às 09:28link do post | favorito

Ele está inanimado e vai ficar a soro sem garantia alguma de sobreviver.

Estou a falar de um ser que me protegeu, divertiu, deu ânimo, fez companhia.

Também me ensinou, sem saber, algumas coisas sobre a vida. Com ele aprendi a viver o momento; com ele aprendi que sou a Natureza numa ínfima parcela e, ao mesmo tempo, sou-a no  seu todo.

 Há dias recebi um mail que dizia que com frequência os humanos olham de cima para baixo e dizem : "é apenas um cão!".

Estás "em baixo" porque o teu animal de estimação morreu? oh, mulher, deixa-te disso e arranja outro"! Com um gato ainda é preciso a gente fazer-se de mais durona. É mais pequeno, fica abaixo na hierarquia dos animais irracionais, é falso (também se diz) e ainda "se o cão gosta do dono, o gato gosta da cama do dono" e por aí fora.

Pois estou mesmo a falar de um gato, e até parece que o bicharoco  já foi desta para melhor.

Vou aguardar com calma pois quero o meu gato de volta. Se eu ainda acreditasse que "eles têm sete vidas" ou que "são de borracha" estava mais optimista.

Garanto que eles têm uma só vida e afirmo que nas veias lhes corre sangue vermelho como o nosso. E mais do que isso: a dor que todos os humanos temem, eles sentem-na com a mesma intensidade.

 Em situações de abandono ficam desorientados, ansiosos e deprimem. Quem não olhou já, nos olhos, um animal que anda à deriva, nas ruas, sujeito a todas as barbaridades que os inteligentes humanos são capazes de fazer?


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