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publicado por berenice, em 29.10.09 às 17:08link do post | favorito

Há dias em que precisamos, com urgência, comunicar. Melhor dizendo, conversar com alguém. Comunicar é qualquer coisa de mais profundo independentemente da riqueza do conteúdo de uma  conversa.

 Vou telefonar a fulana...e não está! ligo para o telemóvel - desligado -.Aquela outra amiga pediu-me que a fosse visitar de vez em quando já que me fica em caminho quando regresso do meu local de trabalho. E, como ela diz que não é preciso avisar, meto-me no carro e vou. O portão está fechado e os dois cães ladram como a dizer-me: ela saíu!!!

Onde estarááááá??? Espreito a garagem e verifico que a minha amiga saíu de carro. Começo a desesperar, preciso de uma voz humana...vou-me enganando e chamo: Preciosa?! - é a cadela. Ão, Ão, responde ela. Campeããão???  e ele já se deitou e resmunga como quem diz: deixa-me em paz, quero é a minha dona. Como que para sossegar os cães ligo para o telemóvel da dona: ninguém responde e eu começo a sentir-me uma idiota desamparada. Reajo e nem me despeço dos cães. Vou à Rua das Lojas, pode ser que encontre alguém. Já estou arrependida de aqui ter vindo, penso. Estou angustiada. Se entrasse aqui e comprasse uma peça de vestuário? E entro numa loja super  cara. Trago uma túnica que fica muito bem com umas calças azul marinho ou creme (que não tenho) e fico na falência. Meto-me no carro e digo mal da minha vida. Não seria melhor ter ficado em casa a ler um livro?

 Já em casa, e porque ainda é cedo para jantar, crio um clima com incensos. Tomo um duche  e refastelo-me no sofá ,a ler um livro, cheia de vontade de resistir às frustrações do dia. Estou a achar, finalmente, o dia produtivo. Entusiasmo-me com a leitura. Sublinho com um lápis (como outrora) as ideias mais interessantes. Aquilo que eu penso e não sou capaz de escrever. E afinal era fácil! Constato, sentindo-me vagamente roubada na ideia.

O telefone toca. A minha amiga acusa a chamada  que lhe fiz de tarde e não se cala mais e eu a dizer, pois sim e claro. O telemóvel dá sinal logo a seguir  e é a outra. Boa desculpa para encerrar a conversa com a primeira.  Entretanto é a campainha da porta. É o rapaz da TV cabo; desculpa, tenho aqui um assunto a tratar, digo. Depois do jantar ligo para o fixo, remata ela. E a mim que me estava a saber tão bem ler o livro!


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publicado por berenice, em 26.10.09 às 09:38link do post | favorito

Está uma manhã gloriosa!

 Os finos farrapos de nuvens não tapam o azul do céu; apenas coam um pouco a luz do sol.

Houve tempo em que eu gostava de ler coisas assim, descrições da Natureza. Lembro-me sempre dos ´"tórridos domingos de Julho" de Eça de Queirós" e, mesmo a manhã gloriosa é uma forma de dizer de Camilo, nos seus arrebatamentos.

 Tenho pena de não acordar alegre, como outrora, cantando num sorriso, hinos à vida.

Em noites límpidas gostava de me extasiar com o espectáculo da Lua e das estrelas. Mas até esse saudável hábito estou a perder.


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publicado por berenice, em 24.10.09 às 15:28link do post | favorito

Hoje apetece-me falar de sentimentos maus e dissertar acerca de estratégias para os combater. Talvez me apeteça escrever isto - estou a constatá-lo -  por ter ouvido um programa de rádio, logo pela manhã, em que se falava de perdoar.  E dizia-se que perdoar não é ficar calado e passivo perante as afrontas e deixar que nos digam e façam qualquer coisa. Naturalmente, agindo assim, vitimizamo-nos, não perdoamos e fica o rancor e, com frequência, a maquinação de uma vingança toma conta da nossa cabeça, do nosso corpo inteiro, da nossa vida. Eu já fui assim. Pelo menos, já fui mais assim e confesso que este lixo mental é completamente letal. Sou professora e já fiz, ao longo da minha vida (não por opcção mas perseguindo os créditos),várias acções de formação. Não aprendi quase nada  salvo raríssimas excepções. E, numa delas, há dez anos, apercebi-me da vantagem que há em se assertivo. Mas continuando a falar de venenos para a alma, temos muitos mais! O medo, não é novidade para ninguém. O medo tem vários capítulos e em cada capírulo toma cambiantes diversas: estou, vasculhando nesse manancial de sentimentos assustadores, a falar de fobias. Ainda não consegui libertar-me delas mas, com muita persistência ,vou-lhes dando uns safanões. Se eu viver quinhentos anos, provavelmente liberto-me 50%. Para quem sofre disto (perdoem-me o conselho) relaxe, ocupe-se, faça desporto ou simplesmente umas caminhadas, nade, não se dedique ao "mapling". Vou atrever-me a dizer uma coisa: ore, ore com frequência na semiobscuridade, leia salmos da Bíblia (ai se o José Saramago me ouvisse!!!) beba muita água, respire correctamente, aspire aromas de flores em perfumes para o corpo, essencias para a casa, flores naturais, não perca a oportunidade de dar uma boa gargalhada. O riso é uma terapia tão eficaz! Só me resta, agora que dei conselhos, pedir perdão pela minha pretensão. E já não vou falar de outro veneno com o qual a vida perde o brilho e a cor que é a vergonha.


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publicado por berenice, em 23.10.09 às 10:00link do post | favorito

 Aleluia! temos novo governo!

 

  Não sei porquê, mas quando acabei de ouvir a apresentação de todos os "novos" ministros, lembrei-me das composições que fazia na minha 3ª classe (isto agora é proibido dizer mas eu estou a recuar no tempo).

 Vamos fazer uma redacção sobre a vaca - ordenava a professora.

O meu lápis girava em torno de si próprio e as pala vras saíam a saca-rolhas:  queria fazer qualquer coisa de diferente para que a composição não ficasse igual à do porco.

 

Então começava: a vaca é um mamífero e come ervas e pasto. Por isso se diz que é herbívoro. A vaca tem quatro patas e dá leite para nós bebermos e por isso é muito útil.

Eu gosto muito da vaca.

Esta última frase era mesmo para rematar o trabalho o que queria dizer que o corpo do mesmo estava demasiado pequeno. Perguntava então baixinho à colega do lado: "puseste que a vaca tem manchas?" ela fazia pchiu.... e tapava o caderno com a mão esquerda enquanto a direita segurava o lápis. Então, eu consultava o rascunho da redacção do porco.

 

 Este governo vai como os outros, comer o nosso dinheiro sob a forma de impostos. Mas também dá alguns subsídios como o abono de família e o subsídio de Natal e mais o de desemprego e outros e por isso é muito útil.

Eu gosto muito deste Governo até porque tem cinco mulheres e as mulheres é que mantêm de pé esta estrutura toda, logo podem ser consideradas as patas do governo. Não vale a pena pensar mais no governo anterior (ou seja na redacção do porco) porque é quase igual. O porco ou melhor, a porca, só dá leite para as crias dela e a vaca é mais generosa.É dessa generosidade que todos ficam à espera.


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publicado por berenice, em 22.10.09 às 13:58link do post | favorito

Quinta-feira, 22 de Outubro.

A minha Escola mudou de rosto. Muita gente nova e os velhos ou se aposentaram à pressa devidoà incrível pressão no trabalho (e sofreram, naturalmente, a respectiva penalização), ou desandaram para outra escola em que o ambiente seja mais acolhedor e haja menos atritos. Ainda hoje, ao olhar para a raíz da árvore onde estão inscritos os nomes dos mais antigos, uma colega me perguntava"A senhora tem aqui o seu nome?!"

Poderia ter ripostado "ai, a senhora, que horror! O meu nome é Berenice. Ou então, o clássico, "trata-me por tu, por favor". A verdade é que estou cansada, tive preguiça ou se calhar medo de cair no ridículo. Apenas disse com voz sumida: sim, estou aqui. E subi as escadas devagar, com um ar derrotado como se o raio da árvore me tivesse caído em cima arrancada por um tornado imaginário.

O fim-de-semana está a chegar. E não é que me dou conta que sinto um nó na garganta?

Queria ouvir vozes nesta casa mas não me posso queixar a ninguém porque as pessoas pensam logo numa companhia masculina. E eu, apenas queria a companhia de minha mãe. É um pouco irracional desejá-lo pois que ela já partiu há quase quinze anos mas não posso esquecer a voz dela, as suas mãos delicadas, a sua presença silenciosa, de um silêncio azul que enchia toda a casa e que me dava tanta segurança!


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publicado por berenice, em 22.10.09 às 13:55link do post | favorito

 Vivo só, como indica o blog. Só, porque não tenho vizinhança, porque a família que me resta está longe, porque tenho poucos amigos. Só, porque eu sempre fui, naturalmente só...

Não, não vou escrever um diário. O meu objectivo é enfatizar a necessidade de estimular a amizade com cumplicidade, delicadeza e atenção. Sei de pessoas que já passaram os 65 anos e que se debatem com a falta de resposta do corpo a uma vida activa e a falta de carinho de familiares e amigos. E não são poucos. Há quem viva em completo desespero, semanas a fio sem que ninguém chame por si.Podem ler o que não leram enquanto jovens, não é? há muita gente que não sabe ler, em Portugal. Podem integrar-se, talvez, num grupinho e fazer umas viagens, umas excursões, um cruzeirinho...pois sim: o problema é que não há dinheiro tão pouco para a alimentação. E no capítulo dos medicamentos, é muito triste alguém chegar à farmácia com a receita e verificar que o dinheiro não chega nem para a terça parte.E volta para casa com aquela resignação sombria que faz doer a alma a quem se apercebe do ocorrido.

 

 São talvez dezoito horas. Estou a tentar libertar-me do tempo.

O tempo faz-nos rugas e gasta-nos os sonhos como a água das cascatas faz às pedras, como o vento faz às dunas.

 Para aquelas que se olham ao espelho e constatam que, apesar dos cremes as olheiras não desaparecem e que o pescoço flácido parece ficar ainda mais flácido com as massagens, e que os ombros e os braços para o ano que vem talvez já não devam ser exibidos apesar do calor (só na praia, pois na praia tudo vale porque é uma terapia). Ah, já me esquecia:para aquelas que sofrem de afrontamentos e abanam o leque em pleno Inverno e ainda mais as insónias e os ossos em risco de fractura, para todas essas vai o meu carinho especial. não me esqueci dos homens: se têm aquele medo constante e cortante que nós sabemos qual é e já se vão informando dos efeitos do viagra a par das consultas médicas em que falam de homem para homem; se sentem vontade de comprar um carro mais potente para suprir outras fraquezas e limitações... para vocês a minha simpatia.


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