Há dias em que precisamos, com urgência, comunicar. Melhor dizendo, conversar com alguém. Comunicar é qualquer coisa de mais profundo independentemente da riqueza do conteúdo de uma conversa.
Vou telefonar a fulana...e não está! ligo para o telemóvel - desligado -.Aquela outra amiga pediu-me que a fosse visitar de vez em quando já que me fica em caminho quando regresso do meu local de trabalho. E, como ela diz que não é preciso avisar, meto-me no carro e vou. O portão está fechado e os dois cães ladram como a dizer-me: ela saíu!!!
Onde estarááááá??? Espreito a garagem e verifico que a minha amiga saíu de carro. Começo a desesperar, preciso de uma voz humana...vou-me enganando e chamo: Preciosa?! - é a cadela. Ão, Ão, responde ela. Campeããão??? e ele já se deitou e resmunga como quem diz: deixa-me em paz, quero é a minha dona. Como que para sossegar os cães ligo para o telemóvel da dona: ninguém responde e eu começo a sentir-me uma idiota desamparada. Reajo e nem me despeço dos cães. Vou à Rua das Lojas, pode ser que encontre alguém. Já estou arrependida de aqui ter vindo, penso. Estou angustiada. Se entrasse aqui e comprasse uma peça de vestuário? E entro numa loja super cara. Trago uma túnica que fica muito bem com umas calças azul marinho ou creme (que não tenho) e fico na falência. Meto-me no carro e digo mal da minha vida. Não seria melhor ter ficado em casa a ler um livro?
Já em casa, e porque ainda é cedo para jantar, crio um clima com incensos. Tomo um duche e refastelo-me no sofá ,a ler um livro, cheia de vontade de resistir às frustrações do dia. Estou a achar, finalmente, o dia produtivo. Entusiasmo-me com a leitura. Sublinho com um lápis (como outrora) as ideias mais interessantes. Aquilo que eu penso e não sou capaz de escrever. E afinal era fácil! Constato, sentindo-me vagamente roubada na ideia.
O telefone toca. A minha amiga acusa a chamada que lhe fiz de tarde e não se cala mais e eu a dizer, pois sim e claro. O telemóvel dá sinal logo a seguir e é a outra. Boa desculpa para encerrar a conversa com a primeira. Entretanto é a campainha da porta. É o rapaz da TV cabo; desculpa, tenho aqui um assunto a tratar, digo. Depois do jantar ligo para o fixo, remata ela. E a mim que me estava a saber tão bem ler o livro!