Nestas tardes longas de Julho o espaço e o tempo dilatam-se até onde a vista não chega; sempre foram tardes excessivamente largas para mim, tanto mais que as coisas perdem os seus contornos e assumem formas disformes de luz, enoveladas, espessas, confusas. E eu gosto de cerrar as pálpebras e ouvir o murmurar do silêncio ou o sussurar do vento que traz notícias de países longínquos até que o sono chegue e me transporte para uma outra dimensão. Quando tinha a minha mãe comigo, ela chegava de mansinho e ajeitava a almofada. Eu olhava para ela e sorria; ela olhava para mim e devolvia-me um sorriso cheio de ternura. Depois, dormia um sono tranquilo porque ela estava por perto. Mas a minha mãe já não está, os braços dela não existem e o sorriso só o posso ler no meu pensamento. É por isso que, antes de adormecer, pronuncio alto a palavra mãe uma e outra vez. E nem um pequeno sinal de mãe; a palavra retorna para mim e o sobressalto vem porque me espanta o que este chamamento contém de súplica, de pranto e de amor. Contudo adormeço; porém, o despertar é doloroso, solitário. Percorro a casa como um fantasma e tudo está como deixei antes de adormecer. Nem uma melancia partida, nem uma limonada, nem umas papas de farinha (que sabor tinham, santo Deus!).
Como sonâmbula, pronuncio outra vez a palavra mãe e assim ando como uma folha desgarrada até que chegue o conforto da noite que traz a lua e as estrelas, que traz a paz e um ténue pressentimento que ela está cá em casa, em todos os cantos, em todos os armários, em tudo o que toco, enfim.