Meu Deus, a terra treme em todo o seu corpo e há inundações e derrocadas e pessoas soterradas, submersas, em agonia e muita gente diz que são sinais dos tempos, maneira suave de dizer que o "mundo está para acabar."
Quando eu era miúda, na minha ânsia de ler, devorava tudo o que me aparecia pela frente. Cansei do livro da 1ª classe e do da 2ª mas ainda me lembro de alguns excertos " A Maria da Várzea tem seis filhos..." a senhora Dona maria Arminda..." por aí fora. Ou então " A Canção da Cerejeira". Era linda.
Na mesa de cabeceira do lado da minha mãe, havia uma Bíblia. O meu conceito de Bíblia, era o desvendar dos segredos da Criação, era a explicação para o mistério da vida e da morte. Li-a do princípio ao fim. Fiquei muito tempo no Nascimento de Cristo e sobretudo na sua Paixão. Nessa altura eu era uma beata em miniatura. O Apocalipse veio mais tarde. E não é que lá diz que o fim dos tempos será anunciado quando as catástrofes forem tantas e tão frequentes que muitos homens morrerão de angústia? Diz ainda que o fim dos tempos terá outros sinais. As famílias ficarão desestruturadas e os filhos levantar-se-ão contra os pais. Esqueceram de dizer que os professores começarão a ser enxovalhados e a apanhar uns tabefes. Mas se calhar, na altura, isso parecia inverosímel.
Não estou a desvalorizar este grande e misterioso livro que é a Bíblia. Se ela é obra de Deus, Ele há-de perceber o que eu quero dizer. E caramba! Deve ser, se não muito inteligente, pelo menos medianamente inteligente. Este aparte deve-se ao facto de Ele nos ter Criado e gostado da sua Obra sem prever a borrada que nós íamos fazer neste planeta abençoado. Mas, ao menos, deve ter um pouco de sentido de humor.
Ai, Deus! se ainda não morreste, se existes e estás no pleno uso das tuas faculdades, quebra o teu pesado silêncio e olha por nós que tanto sofremos.